É lamentável o tipo de jornalismo que é feito em Pernambuco. Qualquer evento que reúna duas mil pessoas é notícia. Até show de funkeiro sai nas chamadas da página principal dos jornais.
O que se vê, no entanto, é a parcialidade, objeção e descaso da mídia pernambucana com o evento que mais atraiu gente no Recife neste domingo: a Cantata Emanuel, da Assembleia de Deus, na Praça do Derby.
Não se encontra nos noticiários nada de destaque à altura do que foi o evento. No máximo, divulgam uma nota escondida no canto de uma página pouco lida ou uma nota coberta (no jornalismo, é a leitura de uma rápida notícia coberta por imagens) sobre a Cantata num telejornal. 

Enquanto qualquer evento profano de pouco impacto, relevância e edificação pra sociedade é tratado como se fosse a notícia do dia.

Basta ver, por exemplo, a maneira como o Jornal do Commercio, o maior do Estado, cobriu o evento. A página 11, em Cidades, deu destaque aos festejos natalinos. A matéria foi extensiva e reportou, com grande ênfase, o Baile do Menino Deus, promovido pela Igreja Católica, que atraiu de cinco a seis mil pessoas, conforme os cálculos da Polícia Militar.

Já pra Cantata Emanuel, que teve um público quatro vezes maior, apenas este pequeno trecho para noticiar o evento: “Ontem, foram os evangélicos que celebraram um culto natalino, também em frente ao Quartel da PM. Coube ao pastor José Ailton Alves, presidente das Igrejas Assembleias de Deus de Pernambuco, comandar o ato religioso”. Nem mesmo o nome do presidente da denominação (Ailton José Alves) o jornal teve o cuidado de averiguar, mostrando o desconhecimento e até o descaso com os assembleianos.




Informação não pede análise. Se algo relevante acontece na sociedade, é preciso ser divulgado, seja bom ou ruim. É o que os jornalistas aprenderam nas universidades. As linhas editoriais dos jornais, porém, fingem que não há nada de interessante quando se trata de algo contrário às suas tendências.

É claro que num dia relativamente frio pra notícias, com um feriado em pleno domingo, a movimentação nas redações jornalísticas não tem o mesmo fervor que nos demais dias. Só que é obrigação dos jornais mostrar o que acontece na sociedade, independente do dia e do local.

Engana-se, nos bastidores do jornalismo, quem acha que notícia de crente não rende. A Assembleia de Deus de Pernambuco, por exemplo, tem mais de um milhão de membros, fora congregados, tem trabalhos sociais exemplares e uma atuação digna na sociedade. Sem contar que foi esta denominação que elegeu os deputados mais bem votados nas eleições de 2010 (Pr. Eurico, Pr. Cleiton Collins, Pb. Adalto). Além da Assembleia de Deus, há muitas outras igrejas de destaque no cenário local.

Por que, então, não mostrar o trabalho dessas igrejas? Ou será que os jornais só pensam em igrejas quando o assunto é roubo, corrupção, desvio de dinheiro, enriquecimento ilícito e outros distúrbios que a mídia tem sede de denunciar?

Em tempo: a Cantata Emanuel reuniu um coro de 200 vozes, uma orquestra de 80 músicos e mais de 20 mil pessoas (segundo cálculos da Polícia Militar). Os evangélicos não querem estampar na capa dos jornais os seus “discursos proselitistas”, como a mídia secular se refere à pregação do Evangelho. Mas também fingir que nada ocorreu no Derby, que isso não é notícia e que isso não tem relevância é simplesmente praticar um jornalismo tendencioso (vale lembrar que a Rede Brasil, apesar de ser emergente, ainda não figura neste cenário por ser uma espécie de porta-voz da igreja e não ser tão aberta para o jornalismo variado, uma vez que a emissora é voltada mais para notícias frias e cobertura de eventos da igreja).

Quem sabe se os próximos grandes eventos evangélicos – como os Congressos da Assembleia de Deus, que atraem entre 30 e 50 mil pessoas – serão divulgados na grande mídia? Ou será que isso não ocorre porque não há nada comercial em jogo, como o Festival Promessas, da TV Globo? É esperar pra ver.

A-BD