Há alguns meses atrás, a proposta de um projeto de lei anti-pirataria com o nome de SOPA causou uma grande controvérsia e protestos devido ao fato de que isso permitiria bisbilhotar os usuários da web ao abrir a porta à censura da internet. A proposta desta lei fez empresas e gigantes da Internet, como a AOL, Facebook e Google se opor abertamente ao projeto de lei - alguns até mesmo foram bem longes ao tornarem seus sites "escurecidos" por um dia como uma forma de protesto. O projeto de lei acabou por ser arquivado e usuários da internet se alegraram. Mas foi uma vitória muito temporária. Uma nova lei está definida para tornar a internet um lugar altamente monitorado.

As empresas que se disseram anti-SOPA estavam genuinamente preocupadas com a sua privacidade? Não na verdade. SOPA simplesmente estava contra os seus interesses, pois colocava o ônus de vigilância na Internet sobre eles.

Agora, um novo projeto de lei com o nome de CISPA foi proposto nesta semana e sua formulação imprecisa fará legal todos os tipos de abuso contra a privacidade e liberdade de expressão. Há indignação dos gigantes da Internet? Nem um pouco. De fato, várias empresas como Facebook, Oracle, IBM, Intel, AT&T, Verizon abertamente apoiam o projeto. Microsoft, que estava apoiando fielmente, decidiu cancelar o apoio ao projeto [por algum motivo, é óbvio].


"Considerando que o SOPA e o PIPA eram ruins para muitas empresas que faziam negócios na internet, e sobrecarregavam-nos com a tarefa profana de policiar a Web (ou enfrentando as repercussões se assim não fizessem), este projeto torna a vida mais fácil para eles, que remove os regulamentos e o risco de serem processados por entregar nossa informação à lei. Sem mencionar fazer o que a lei diz que vai fazer: protegê-los de ameaças cibernéticas".


Com o apoio de grandes empresas, o CISPA está recebendo uma publicidade muito menos negativa e tem muito mais chance de ser adotado. Foi recentemente relatado que a administração Obama é contra CISPA - mas isso não é suficiente para cancelá-lo. Além disso, com eleições em breve, parecendo estar contra esta lei controversa e ainda tê-la adotada pode ser uma estratégia política simples.

Como as empresas estão apoiando a lei, cabe ao povo ter suas vozes ouvidas. Embora diferente do SOPA, o CISPA tem todos os componentes principais para transformar a internet em um estado policial cibernético.

Fonte: VC

Câmara dos EUA aprova Cispa, lei que pode ferir privacidade

A Câmara dos Deputados dos EUA aprovou no começo da noite desta quinta (26), por 248 votos contra 168 o Cispa - Ato de Proteção e Compartilhamento de Ciberinteligência. A proposta para o Senado.

O Cispa pretende melhorar o poder dos EUA para combater crimes e ataques virtuais, promovendo e incentivando a troca de informações entre governo federal, agências de segurança e empresas privadas. A lei aprovada permite que provedores de internet, redes sociais e qualquer outra entidade privada repassem para o governo (e troquem entre si) informações "que digam respeito a ciberameaças", sem a necessidade de qualquer ordem judicial. E que o governo faça o mesmo, compartilhando com empresas as pistas sobre possíveis ataques.

Qualquer informação - incluindo dados pessoais de usuários estrangeiros publicados em redes sociais - podem entrar nessa rede de troca de dados. Basta que alguma das entidades contempladas pela lei julgue necessário divulgá-las para manter a segurança de redes dos EUA. 

Opositores do projeto dizem que ela permitirá que empresas de internet enviem dados para o governo sem vigilância da sociedade - algo que fere os princípios de privacidade.

Lembrou das discussões sobre o projeto de lei de crimes digitais que tramita no Congresso brasileiro há anos? O Cispa tem mais pontos em comum com ele do que com os projetos Pipa (Protect Intellectual Property Act) e Sopa (Stop Online Piracy Act), relacionados à violação de direitos autorais e propriedade intelectual, que tiveram suas votações adiadas após protestos da Casa Branca e de deputados e senadores democratas e republicanos, além de uma reação global na internet.

Privacidade zero

"Informações privadas podem ser compartilhadas a despeito de qualquer outra disposição de lei", diz o texto do Cispa. Isso significa que, amparados por ele, autoridades americanas poderiam passar por cima de todas as garantias de privacidade de dados vigentes nos EUA.

Indignadas, agências de defesa da liberdade na internet chegaram a promover uma série de protestos, em diversas partes do mundo,nos moldes dos protestos que resultaram no adiamento indefinido da votação da Sopa no Congresso.

As ações mobilizaram usuários, grupos hackers e entidades civis. Mas não as empresas de tecnologia. Desta vez, ao contrário da mobilização contra a Sopa, companhias como Facebook, Microsoft, Intel, IBM e Oracle se declaram publicamente a favor da aprovação da Cispa. Argumentam que é necessário ter uma forma mais efetiva e menos onerosa de compartilhar conhecimento sobre ameaças digitais para proteger melhor seus usuários e suas patentes.

Genérico demais

Assim como o projeto de crimes eletrônicos (o famoso PL do Azeredo), a redação do Cispa usa uma linguagem ampla para definir o que é uma ameaça virtual, o que deixa a porta aberta para abusos, na opinião dos advogados Rainey Reitman e Lee Tien, da Electronic Frontier Foundation (EFF). Segundo eles, aprovado como está redigido o Cispa pode criar um estado de vigilância permanente.

"A linguagem é tão vaga que um provedor de internet poderia usar a lei para monitorar as comunicações de seus clientes para achar possíveis violações de direitos de propriedade intelectual", disse Rainey Reitman à Reuters.

A EFF argumenta, ainda, que não é necessário que a sociedade abra mão dos direitos de privacidade em nome da segurança virtual.

Casa Branca irá vetar

A administração do presidente Barack Obama afirmou novamente nesta quarta-feira que se posiciona contra a lei, com o escritório da Casa Branca afirmando que recomendará que Obama vete o projeto.


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